quarta-feira, março 14, 2007

Internet? Mera Simulação

Texto do Felipe Quaglietta sobre até que ponto a internet possui conteúdos realmente revolucionários.

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Sempre recebo e-mails de meus amigos acerca das novidades tecnológicas disponíveis na internet ultimamente. A cada dia, vários videozinhos youtúbicos, blogs sobre tecnologia da informação e notícias sobre inventividades eletrônicas me mantém informado sobre o que há de novo. E é exatamente sobre isso que eu quero falar: o que há de novo.

Sei que o que vou dizer não é uma teoria nova. Tampouco fui eu um dos primeiros a pensar nisso. Mas tudo que há de novo não me parece.... novo. Todas as inovações que acompanho hoje em dia não me parecem verdadeiramente inovações, mas sim releituras do mundo não-virtual. Calma, vamo devagar.

Antes de pensarmos na internet, pensemos em termos de hardware e software primeiro. Pensemos no computador. Este para o qual você olha nesse exato instante tornou-se realmente útil como um computador pessoal quando começou a simular atividades simples do mundo real. O Word, por exemplo. O que não é o tal do Microsoft Word senão uma simulação de um papel e uma caneta? Claro, uma simulação com diversas facilidades. Pode-se apagar, reescrever, usar tipografias diferentes... mas, ainda assim, uma releitura da escrita comum. O Excel? Uma planilha com calculadora. Também com seus aperfeiçoamentos, obviamente. Mas desenvolvido e pensado como simulacro de uma coisa que há muito já era feita sem a necessidade de um computador: um alguém amante de exatas preenchendo uma tabela. O Paintbrush? Ora, papel e lápis de cor para desenhar. Os exemplos são muitos, talvez infinitos. Mas meu objetivo aqui é pensar acerca da internet, e não sobre softwares offline. Então, prossigamos.

Tendo em vista que o PC e seus softwares foram criados como uma grande releitura da realidade, com diversos incrementos pensados para facilitar nosso trabalho, analisemos então a internet. O mundo online é também uma espécie de tentativa de reprodução do mundo offline e de suas já existentes e socialmente consolidadas tecnologias. Bóra pros exemplos de novo:
O Youtube. A atual revolução online, recém-adquirido pelo gigante Google por um valor absurdo. Mas o Youtube é composto por... vídeos. Vídeos. Entende? O Youtube não trouxe consigo uma novidade, um invento. O Youtube é um jeito simplificado e aperfeiçoado de se reproduzir... vídeos. Os mesmos vídeos que já existiam desde mil-novecentos-e-irmãos-Lumiére. Logicamente, como acontece com todos os exemplos acima, existe um grande fator facilitador. No caso do Youtube, este fator é a divulgação extremamente simples de todo e qualquer vídeo que se queira disponibilizar. Vídeos caseiros, profissionais, piratas. Estão todos lá. Porém, friso novamente: é um reprodutor de vídeos. Nada de novo inventado aí.
Programas P2P? Bit Torrent, Kazaa, E-mule, o quase finado Napster? Compartilhamento de MP3 gratuito? Maravilhoso. Mas é música apenas. O compartilhamento P2P consegue estabelecer uma fácil e rápida troca de... música. A mesma música que existe desde que... bom, desde que algum quase-homo sapiens pré-histórico fez barulhos repetitivos com a boca. Novamente, não houve um invento. Houve uma maneira de se reproduzir e compartilhar algo já existente, algo já consolidado. Música. Messengers? MSN? Vai dizer que você nunca trocou bilhetes em sala de aula? Hoje em dia, via messenger, consigo trocar bilhetes com alguém na Malásia, verdade. Mas continua uma troca de bilhetes. Do mesmo tipo que minha mãe fazia com suas amigas quando era adolescente. E nem mesmo vou citar o Skype, que é o mais óbvio simulador online que existe: o de telefone.

Acho que fui claro o bastante. A internet é um conjunto de cópias aperfeiçoadas de coisas e situações que sempre fizemos fora dela. De uma simples leitura de um jornal online a uma mera partida de poker online, são todos simulacros do real. Quem sabe agora, com o advento finalmente da Web 2.0 (da qual ouço falar há cerca de 5 anos), com as novas formas de utilização da tal da tecnologia Ajax e com as novas maneiras de programação, surja finalmente a verdadeira revolução da internet que, ao que tudo indica, ainda se encontra em estágio embrionário. E eu torço para que isso ocorra o quanto antes. Pois me incomoda bastante, como usuário, que as pessoas confundam uma revolução tecnológica com aquilo que a internet realmente é: uma inovação de costumes. Bastante relevante, verdade. Mas ainda assim, uma mera inovação de costumes.

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Opinião muito bacana. Como diria Luisa Micheletti, VJ da MTV: "a internet nada mais é do que um simulacro da realidade", não é mesmo? E a função social da internet, a meu ver, é justamente essa: fazer de uma forma mais ágil, mais democrática e mais global tudo aquilo que tem sido feito de outra forma há tempos.

Valeu pelo texto, Felipe!

2 comentários:

Conrado Ruggieri disse...

Fefeco, cheio de argumentos, hem?! hehe =D
Ótimo texto.

Mas, por favor, não se esqueça da maior inovação que é a web: o compartilhamento.
Aí é que está a galinha dos ovos de ouro, bits, pixels e etc.

Valeu pelo post e abraço.

gaitha disse...

é, no fundo, no fundo, tudo é uma "releitura" de algo que já foi feito. li um dia que tudo o qe já podia ser inventado no mundo já foi criado, o que nos resta agora é fazer novas "versões" do que já existe.

mas ok, isso tb é acabar com a graça de certas engenhosidades humanas. e mesmo que uma mera simulação, um brincadeira de criança, não deixa de ser maravilhoso tudo o que "fizemos"...

=)